A teoria da evolução é um dos principais protagonistas nas inquietações religiosas de muita gente, inclusive nas minhas e nas do próprio Darwin. Imaginar o medo de se refutar uma parte e os outros admitirem automaticamente que você está eliminando toda a idéia de deus é o que algumas vezes bloqueia a criatividade de muitos estudiosos, mais no passado do que no presente.
O filme não decepciona, se foca na vida e não na obra do autor e é isto que o faz relevante. O cientista tem uma família, filhos, esposa, vai à igreja, mais no passado do que no presente, tem seus amigos e inimigos. Estes aspectos da vida de muitos grandes homens não são levados em consideração e assim escondemos lições preciosas, que podem nos ensinar tanto quanto suas obras.
Fato é que Darwin perde a fé e em um dado momento do filme ele diz: “a perda da fé religiosa é um pequeno e frágil processo, como o nascimento dos continentes”. Sem perder o linguajar da classe ele explica e vive esse processo como ninguém. Mas, curiosamente não é o abandono da fé cristã que o liberta para escrever seu notável livro, como eu havia imaginado. Há muito mais que apenas religião e ciência, e elas não estão constantemente em guerra, quem está em guerra somos nós e se você quiser saber quem o desafia, apenas olhe no espelho, lá está seu indomável opositor.
A busca de Darwin por uma libertação dos seus fantasmas é muito pessoal. Somente quando ele está livre dessas amarras, comuns a cristãos, judeus, mulçumanos e ateus, é que ele consegue voltar a viver e completar sua obra com grandeza.
Não vejo no filme Darwin matando deus, mas ele recusa uma idéia de um deus limitado e alienado dos processos naturais, um deus que não parece soberano. Antes de se agarrar a um dos lados do que muitos pensam ser uma guerra, é bom lembrar que temos uma vida, uma consciência e alguns sentimentos estranhos, temos pessoas ao nosso redor e um planeta que precisam de ajuda. Talvez a nossa posição devesse ser a de permanecer pelo bem comum e as crenças pessoais deveriam continuar pessoais.
Darwin temia que as pessoas passassem a ver a vida com indiferença após a sua teoria, pois tudo parece obra do acaso. Mas, se eu o encontrasse algum dia, gostaria de lhe dizer que ainda é possível encontrar beleza e harmonia nisso tudo sem precisar sair do nosso quintal, da mesma forma como ele era capaz de fazer.