sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

“Creation”


Assisti “Creation”, o filme pouco divulgado que conta como Charles Darwin escreveu seu livro “A Origem das Espécies”. Nesta obra estão os princípios da teoria da evolução, assim como os conceitos de seleção natural, multiplicação das espécies, origem comum e gradualismo, todos importantes para uma compreensão ampla da vida no planeta terra.

A teoria da evolução é um dos principais protagonistas nas inquietações religiosas de muita gente, inclusive nas minhas e nas do próprio Darwin. Imaginar o medo de se refutar uma parte e os outros admitirem automaticamente que você está eliminando toda a idéia de deus é o que algumas vezes bloqueia a criatividade de muitos estudiosos, mais no passado do que no presente.

O filme não decepciona, se foca na vida e não na obra do autor e é isto que o faz relevante. O cientista tem uma família, filhos, esposa, vai à igreja, mais no passado do que no presente, tem seus amigos e inimigos. Estes aspectos da vida de muitos grandes homens não são levados em consideração e assim escondemos lições preciosas, que podem nos ensinar tanto quanto suas obras.

Fato é que Darwin perde a fé e em um dado momento do filme ele diz: “a perda da fé religiosa é um pequeno e frágil processo, como o nascimento dos continentes”. Sem perder o linguajar da classe ele explica e vive esse processo como ninguém. Mas, curiosamente não é o abandono da fé cristã que o liberta para escrever seu notável livro, como eu havia imaginado. Há muito mais que apenas religião e ciência, e elas não estão constantemente em guerra, quem está em guerra somos nós e se você quiser saber quem o desafia, apenas olhe no espelho, lá está seu indomável opositor.

A busca de Darwin por uma libertação dos seus fantasmas é muito pessoal. Somente quando ele está livre dessas amarras, comuns a cristãos, judeus, mulçumanos e ateus, é que ele consegue voltar a viver e completar sua obra com grandeza.

Não vejo no filme Darwin matando deus, mas ele recusa uma idéia de um deus limitado e alienado dos processos naturais, um deus que não parece soberano. Antes de se agarrar a um dos lados do que muitos pensam ser uma guerra, é bom lembrar que temos uma vida, uma consciência e alguns sentimentos estranhos, temos pessoas ao nosso redor e um planeta que precisam de ajuda. Talvez a nossa posição devesse ser a de permanecer pelo bem comum e as crenças pessoais deveriam continuar pessoais.

Darwin temia que as pessoas passassem a ver a vida com indiferença após a sua teoria, pois tudo parece obra do acaso. Mas, se eu o encontrasse algum dia, gostaria de lhe dizer que ainda é possível encontrar beleza e harmonia nisso tudo sem precisar sair do nosso quintal, da mesma forma como ele era capaz de fazer.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Sobre o que os nerds ou qualquer outro tipo de pessoas podem fazer pela humanidade


“Maxwell era um nerd”, disse um professor meu após nos entregar um texto de Carl Sagan. Eu parei, tive que pensar sobre isso. Como pode? Nossos gênios são heróis não nerds! Pelo menos era o que parecia, pelo menos era o que faziam parecer. Mas e se ele era mesmo? Que preconceito é este que nos faz desdenhar das pessoas sem perceber o que de bom elas podem oferecer?

Só pra constar, Maxwell era sim um típico nerd, do tipo que detestava ir à escola pelos maus momentos que passava lá. Bem, isso não foi prejudicial para ele, pois faz parte do grupo dos cientistas que mais produziram e sua produção foi particularmente relevante. O comportamento das ondas eletromagnéticas (tão necessárias!) é descrito em suas belas e famosas equações. No final, o que parecia ser pesquisa básica tola se tornou a revolução na forma como os seres humanos se comunicam.

Embora não tenha sido o “cientista descolado”, este é um homem que admiro porque ele foi, a seu modo, um homem completo. Olhando uns livros aqui, me deparei com um antigo Tipler onde havia um trecho sobre nosso ilustre James Clerck Maxwell:

“Maxwell era uma pessoa excepcionalmente sensível, com um sentimento religioso muito forte e um senso de humor fascinante e surpreedente. Muitas de suas cartas revelam uma ironia muito tímida, deliciosa”.

Quem diria que esse brilhante homem era também encantador? E romântico também, como sugere este trecho de um poema dedicado à sua esposa:

“Todos os poderes da mente, toda a força da vontade

Podem estar reduzidos a pó quando estivermos mortos,

Mas o amor nos pertence, e continuará a nos pertencer

Quando terra e mares tiverem desaparecido”.

O que quero dizer após estas rápidas considerações sobre Maxwell extraídas de queridos livros meus é que há muito mais por dentro das pessoas do que imaginamos. O cientista brilhante, o escritor genial ou o dançarino gracioso, todos eles possuem desejos além de suas áreas de atuação “oficiais”. Da mesma forma, o faxineiro, o gari e o cozinheiro possuem seus talentos artísticos e intelectuais que foram suprimidos pela sociedade. Acima de tudo, somos humanos e dotados de uma maravilhosa inteligência. Se aprendermos a respeitar os limites de cada um, a forma como cada um aprende e produz o que gosta, teremos então, o melhor de cada pessoa transcendendo sua posição na cadeia social.