quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Lewis e eu...


Comecei a ler C. S. Lewis com aproximadamente 15 anos de idade e nunca mais parei. A leitura pesada e densa de alguns de seus livros não afastou o desejo pela leitura, ao contrário, foi com esses livros que comecei a experimentar o prazer de ler em um novo e mais elevado nível que adiante desencadeou uma vontade em apreciar arte e cultura em geral.
Além de me deliciar com suas respostas e seu raciocínio brilhante, descobri que desejar conhecimento e procurar entender o universo infinito não é nenhum pecado nem atividade inútil. Na criação de seu mundo, na ficção científica ou na crítica literária, suas palavras sempre revelam a lucidez de quem sabe muito bem que não está prestando um serviço inútil.
Minha busca em Lewis era por uma alternativa a este cristianismo que domina as igrejas cristãs. Nascido em igreja, vivendo neste meio, nunca desejei deixá-lo, mas cheguei a um momento no qual a inutilidade de participar disto estava me incomodando. Foi neste clima que li “Cartas de um Diabo a seu Aprendiz” e em seguida, “Cristianismo Puro e Simples”. Pra quem já teve a experiência de ler estes dois livros sabe que são transformadores. Neles o autor descarrega grandes doses de raciocínio profundo em uma visão de cristianismo que transcende o que temos visto.
Então decidi ficar, ou melhor, tentar continuar. Bem, todo cristão sabe que não se “fica” permanentemente, sempre estamos voltando, como na música da Brooke: “I know I’m filled to be emptied again”. Vamos ao externo, nos distraímos, notamos aquele vazio novamente, e então, voltamos. Fato é que continuei, e foi porque Lewis mostrou-me que este conjunto de crenças não é como os demais e não menospreza nossa frágil, (porém valiosíssima), inteligência.
Concordo em ser chamado de animal, são evidências bem convincentes, agora, irracional não dá. Sempre esbarro nisto, o que sei, (ou o que não sei), sobre a origem da minha consciência me diz muito. Ou ela vem de fora desta natureza irracional, sendo assim uma manifestação do sobrenatural, acima do natural, ou então, tudo que temos e todo o conhecimento científico e religioso ou ainda moral que construímos vem da irracionalidade natural e não faz sentido nenhum, é irracional. Falar em lógica e ciência pra que?
O ultimo livro de Lewis que li foi a nova versão de “O Peso de Glória”, com sermões do autor que tratam de temas importantes para o período no qual ele viveu. Fui surpreendido novamente por suas palavras. Sua visão a respeito da busca do conhecimento me inspira, mostra quão valioso é este momento pra mim, de estar na universidade estudando o que quero e o que me interessa, embora às vezes exagero neste “o que quero” e isto não é tão bom, mas estou livre pra usar minha capacidade e criatividade, coisa que não acontece na igreja.
Outro aspecto importante entre Lewis e eu é sobre alguns momentos de sua obra nos quais posso perceber influências da física que estava sendo construída na Europa durante sua vida. Além de ter escrito ficção científica, em “As Crônicas de Nárnia” sempre que as crianças vão para Nárnia e retornam percebe-se que o tempo passa diferente nos dois referenciais. Encontro neste fato a referência à teoria da relatividade restrita de Einstein. Ele trabalha com a visão que podemos chamar de tempo relativo, ou seja, o tempo passa de forma diferente para pessoas em condições diferentes, de acordo com esta teoria, para pessoas que estão em altíssimas velocidades ocorre o fenômeno da dilatação do tempo, ou seja, o tempo passa de forma mais lenta quanto mais essa velocidade se aproxima de “c”, a velocidade da luz (aproximadamente 300.000 Km/s).
Esta foi só uma descoberta recente minha sobre Lewis, mas acredito que tem muito em sua obra e ainda teremos muitas descobertas agradáveis, pois ele certamente escreveu para a posteridade também, cabe a nós que nos identificamos com sua escrita perpetuar seus pensamentos e sua obra que se mantém atual e poderá durar por muitas gerações.


sábado, 10 de outubro de 2009

Diários de Motocicleta


Gosto dessas histórias que envolvem uma viajem inesperada, uma mudança de planos e uma mudança de foco para sua vida... talvez porque gosto de mudar sempre... acho útil mudar e experimentar um novo olhar sobre o mundo.
Sou apaixonado por esse Ernesto que é um jovem idealista, que se importa com o outro e não se aguenta perto de alguém, mas sempre expressa a felicidade pelo outro existir. O idealismo sempre tende ao exagero, e exageros não são bons, porém, se isso ressaltar a beleza da vida e contribuir pra elevar os caídos, acho que tem seu valor.
o filme fala sobre isso, uma experiência que faz mudar. Quando Ernesto começa a caminhar pela américa, encontra pessoas e seu relacionamento com elas o transforma por dentro, faz crescer algo que ele estava guardando enquanto freqüentava o frio departamento de medicina da faculdade. Não sei dizer se ele se tornou um homem melhor, mas sei que ele se tornou mais humano. Como ser humano sem se envolver com a espécie?
Por isso acho que pecamos. Pecamos por que não queremos enxergar o outro. O outro com seus problemas financeiros, doenças talvez incuráveis, ou capacidade intelectual limitada. estamos sempre procurando uma forma de nos colocarmos acima quando o acima não existe, é apenas uma ilusão. Somos tão parecidos e não percebemos!
Quero entender o outro pra saber o que é ser ele, quero conhecê-lo, só assim poderei ajudar em suas necessidades, porque verdadeiramente saberei qual sua necessidade.
"Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus" (Fp. 2:5).

sábado, 5 de setembro de 2009

ENTRE OS MUROS DA ESCOLA

Se você tiver a oportunidade de assistir, não deixe passar, este é o tipo de filme que faz refletir, e muito. Baseado no livro de François Bégaudeau, com a direção de Laurent Cantet, o filme retrata a realidade das salas de aula da Europa atualmente, que é marcada por uma mistura de culturas e etnias. O filme se passa em uma escola do subúrbio de Paris o tempo todo, retratando o cotidiano dos alunos e professores do lado de dentro dos muros. Quase todos os alunos têm origem estrangeira e os professores geralmente são franceses. Apesar dos conflitos vividos e do stress acumulado pelo trabalho, (lá a escola é em período integral) os professores demonstram dedicação no trabalho.
Segundo o autor do livro, sua história “não procura mostrar tensões étnicas, mas, antes de tudo, os mal-entendidos entre um adulto e um adolescente no ambiente escolar”. Perder o controle emocional é algumas vezes inevitável, e parece ter sido esta a intenção, mostrar o quanto a realidade é afetada por nossas relações, nossas posturas e palavras, nossos posicionamentos e escolhas.
Quando se decide por ser professor, decide-se também combater preconceitos, não só dos alunos que chegam até você com algumas idéias construídas em um ambiente familiar não muito saudável, mas de adultos também, que por encararem esta profissão com algum desprezo, contribuem para a desvalorização do profissional. Ao se escolher ser professor, se escolhe não apenas uma profissão, mas você se dispõe a ser um descobridor e um desbravador pelo resto de sua vida. Cada experiência deve ensinar, cada vez que abrir aquele mesmo livro ou que ministrar aquela mesma aula, o conhecimento irá se reconstruir com novas imagens e palavras em sua mente, trazendo algo fresco.
Não creio que seja somente para os abnegados, como alguns pensam que ser professor é abrir mão da tranqüilidade e de um salário melhor. A realidade não confirma essa proposição. Mas defendo que é necessário um nível extra de compreensão, paciência e controle emocional, pois quando se trata de pessoas, sabemos que marcas serão deixadas, principalmente em adolescentes. É preciso também dedicação e alegria para trabalhar, como em qualquer outro lugar. Por mais que na casa do aluno o professor seja desvalorizado, a sala de aula é onde se pode mudar essa concepção. Gosto de ver o professor como um influenciador, um estimulador que desencadeia mudanças, que embora simples, são mudanças que transformam os mundos particulares dos alunos.
Por mais que não seja esta sua área de atuação especifica, a educação se faz presente em qualquer área de diversas formas. Mestres foram Sócrates, Platão e Aristóteles, mas, também é o pai, a mãe, o patrão o presidente e qualquer outro que em seu ambiente está em evidência ou na liderança. Enfim, qualquer um entre nós tem muito a aprender e algo a ensinar, talvez seja o dever de todos, não morrer sem ensinar algo ao outro, nem deixar de se dispor a conhecer. O que não deve ser esquecido é que seja lá quem você for, tem muito mais a aprender que a ensinar.
O filme “Entre Os Muros Da Escola” coloca você dentro da sala de aula, e uma vez que a sua atenção estiver presa, será levado a meditar sobre a ficção. As diversas lições podem ser tiradas do próprio comportamento das personagens e se aplicam a outras situações, pois deveríamos já ter nos apropriado da consciência de que a importância da educação ultrapassa os muros da escola.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

FÉ EM DEUS E PÉ NA TÁBUA


Gostar de um autor na primeira leitura é uma boa sensação. E este é um bom autor que escreveu um bom livro. Não só isso, ele resolveu viver seu livro, ou melhor, transformar em livro o que viveu. Donald Miller, o escritor, saiu de casa aos 21 anos de idade e foi cruzar os Estados Unidos com um amigo em uma velha Kombi. Costumo dizer que Kombi é para frutas e verduras, não se consegue andar nelas sem se sentir uma melancia ou uma abóbora rolando naquele assoalho. Mas neste livro ela é quase uma personagem e a história não teria o mesmo gosto se eles estivessem em qualquer outro carro.
Don parece ter um objetivo próprio, meio oculto, com a aventura. Ele quer encontrar um sentido em meio toda cultura americana que bombardeia sua vida e sua visão de cristianismo. Em vários momentos consegue ser realmente profundo quando faz reflexões sobre diversos temas. Esses momentos brilhantes estão inseridos nos relatos da viagem e unem a obra nos lembrando do porque estamos lendo o livro, para compartilhar a experiência do autor e talvez abrir um novo caminho em nossa mente.
A vida é uma boa oportunidade para aprender, e para isso precisamos partir. Deixar o “porto seguro”. Talvez não exatamente como Donald, se aventurando em um velho veículo, mas podemos partir com nossas escolhas, abandonando as coisas de sempre, as coisas velhas, e experimentando coisas novas ainda não exploradas. Paulo diz:
“esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus.” Fp 3 :13,14. (NVI)
Talvez precisemos reavaliar nossa motivação e nosso alvo. Pode existir mais do que carros, mansões e sucesso profissional, mas você só obterá isto se aprender a desejar menos, desacelerar. Nosso alvo não deve ser algo material que um dia perecerá, e a nossa motivação não pode ser ofuscada por nenhum problema momentâneo. A alegria pela ressurreição de Cristo dentre os mortos deve ser combustível suficiente para trilhar este caminho.
O apóstolo Paulo ainda diz aos Filipenses:
“Tão somente vivamos de acordo com o que já alcançamos.” Fp 3 :16. (NVI)
As novas experiências pelas quais passamos devem produzir algo de diferente em nós, e não devemos abandonar isto, mas incorporar a nossa vida. Devemos enriquecer pelas vivências, pelo que escolhemos viver, pelo que decidimos fazer, pelo que arriscamos mudar.
Como estudante de física, um trecho no livro me chamou a atenção especialmente, se trata do trecho em que o autor fala sobre a metáfora da luz, tão presente na Bíblia e na tradição hebraica. Depois de comentar as características da luz, ele conclui:
“Então, quão adequado é para Deus criar uma existência, e então uma metáfora, como se estivesse dizendo: Aqui está algo inteiramente diferente de vocês, fora do tempo, infinito em seu poder e impulso: aqui está algo que vocês podem experimentar, mas não podem compreender. Assim, pelo restante da Bíblia, Deus chama a si mesmo ‘luz’.” Fé em Deus e Pé na Tábua (Donald Miller).
Pra quem ler, leia como se fosse sua história e sua aventura. Se coloque no lugar do personagem e experimente, mesmo que seja somente através do livro, o rompimento com aquilo que nos é imposto. Permita-se ser mudado.